30 abril, 2015

Os poderes da língua

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por Máucio

Um colega recebeu uma mensagem de um amigo em comum, dizendo que falar ¨sítio¨ era coisa de grosso, que se deveria dizer ¨site¨ e pronto. Compadeci-me com a crítica e fiquei lembrando-me da luta que passamos permanentemente com os textos escritos
por alguns jovens alunos, nem sempre fáceis de digerir.
A geração de 20 anos, atualmente, não respeita ou não sabe várias regras do nosso vernáculo, entre elas a questão da grafia das palavras estrangeiras. Consta que “as mesmas” (é assim que eles escrevem) devem ser escritas grifadas, ou seja, com letras em itálico: você é meu love, vou comer um hot-dog, e por ai vai.
A gurizada está perdendo totalmente o senso de língua pátria e usa, indiscriminadamente, termos de outros idiomas sem o menor pudor. E é claro que são quase todos do vocabulário anglo-saxão. Não é por acaso, a língua é uma das formas mais sólidas de invasão cultural. Através das tecnologias e do comportamento social – via literatura, cinema, enlatados de TV – invade-se povos e o reflexo mais imediato se observa no linguajar.
Não é uma questão de ser xenófobo, é apenas uma preocupação com um dos elementos mais preciosos da identidade nacional, a nossa Flor do Lácio. Não basta cuidar só do petróleo. Afinal, não dizem que o inicio é o verbo? Caso continue assim,
daqui um tempo poderemos ter uma Torre de Babel na nossa própria morada. E olhe que entendo que toda a língua é um ente dinâmico e mutante, mas tudo tem um limite.
Distraídos substituem palavras portuguesas como quem troca de tênis. Bicicleta virou byke. Panfleto virou flying. Dança virou dance. Bauru virou cheese. Ética no esporte virou fair play.
Livro de fotos virou book. Brinquedo virou toy. Texto acadêmico virou paper. Intervalo virou coffee-break. Oficina virou work-shopp. Desenho virou design. Bolacha virou cookie. Galinha a milanesa virou chicken. Administrador virou manager. Professor de
educação física virou personaltrainer. Acampamento, há tempo, virou camping…
Quando não existe palavra que traduza satisfatoriamente, até dá pra compreender,
mas não é o caso na maior parte das vezes, é só observar os exemplos. Por que não poderíamos dizer rato ao invés de mouse? Por que não podemos usar fino ou delgado ao invés de slim? Os espanhóis e os franceses, é sabido, preocupam-se com a invasão estrangeira desenfreada em seus vocabulários. Por que nós, brasileiros, temos que ser descuidados?
Assim o ¨português¨ vai virando uma salada de fruta maluca. MTV é pronunciado um pedaço em cada idioma, só o M é pronunciado em nossa língua, o T (ti) e o V (vi) em inglês. Algo semelhante acontece com a marca BMW onde só a última letra é falada em ianque:¨dabriú¨. Do jeito que andam as coisas as crianças se alfabetizarão nesse pandemônio. Não sabendo se o ¨i¨ é ¨i ¨ mesmo ou se pronuncia como ¨a¨. Se ¨oo¨ é ¨u¨ ou se são dois ¨os¨. Por essas e outras que respeito o colega que diz ¨sítio¨ mesmo,
referindo-se a página da internet. Alguns têm que se manter como guardiões da língua de Camões, pois se não fizermos isso, vai chegar a hora em que alguém, referindo-se a obra de Monteiro Lobato, vai falar em ¨Site do Pica Pau Amarelo¨. Poupemos o autor de tal barbárie. Antes que não seja overlate!